terça-feira, 13 de maio de 2025

Queijo Fresco de Minas

                                                                                                        "Nem prata, nem ouro..." Atos 3:6

Não raro temos por banais algumas atitudes nobres cujo valor a gente ignora ou não se lembra. No primeiro caso falta-nos instrução, no segundo, memória ou talvez simplesmente pudor! Às vezes lamentamos pelo não poder ajudar alguém sem desconfiar que naquele exato momento tínhamos à mão a coisa da qual ele mais  precisava e mesmo não nos custando ela, absolutamente nada, miseravelmente lha negamos como um pedaço de pão a quem tem fome, como um copo d'água a quem tem sede. Mas a memória, que tanto nos serve, às vezes se rebela, e como uma entidade autônoma, indignada, eleva-se as alturas do nosso orgulho e nos esbofeteia, na cara, certas verdades que tão bem conhecemos, mas que convenientemente nos permitimos esquecer e eis aí, senhoras e senhores - a vergonha que nos faltava!

Plim, plim, blém, blem, clap, clap…  Como é chato atender estas  inconvenientes campainhas ou interfones acionados pelas mesmas irmãs teimosas de sempre, que antigamente espalmavam-se na frente de nossa porta, exatamente naquele instante das férias ou folga, no qual algo importantíssimo nos ocupava. Nunca tive muita paciência com este tipo de visitante inesperado que nos incomoda tanto como o vento inoportuno,  que faz bater, continuadas vezes, uma porta entreaberta.

Ah, mas às vezes, não há visitante mais inconveniente do que a memória - já fui vendedor e também desempregado! Mas isso só foram as lembranças mais recentes, o melhor, digo, o pior estava por vir.  

A mãe ficara viúva quando aquele menino tinha ainda quatro anos de idade, passando um bom tempo trabalhando com  queijo fresco de minas que comprava na rua Cantareira ou na Santa Rosa, zona cerealista  de São Paulo, para os vender de porta em porta.  Antes da idade escolar eu bem me lembro dela, saindo pelas ruas com a sacola em uma das mãos e aquele menino peralta em outra, do qual só se desatava quando tinha que bater palmas ou tocar as campainhas... Tinha inúmeras freguesas fieis, desconfio que algumas nem gostavam tanto assim de queijo. Outras não apreciavam mesmo aquele derivado lácteo, e não compravam, mas não tomavam aquele trabalho honesto por uma agressão, uma ilícita subtração de alguns minutos de sua tão preciosa privacidade. Pelo contrário, aquela forma doce e atenciosa de se dizer "hoje não querida" ornada talvez com algumas observações sobre o clima senão até refrescada por uma jarra de água gelada tornavam bem mais leve aquela sacola e mais forte a esperança de que nos  quantos da lida daquele dia, viriam certamente  os quês do almoço daquela noite.

Quem pode afirmar que um simples ato dessa índole pode não mudar a ideia  de quem, exausto,  está prestes a desistir?! No mínimo, aqueles poderosos minutos mágicos de alguns, faziam a diferença, tornando invisível e indiferente a existência  de outros poucos que se escondiam, que  mal se davam ao trabalho de ir até ao portão ou responder, de longe alguém que batia em sua porta.  

Que tenhamos alguns minutinhos de nosso tempo em mãos para quem precisa, ainda que não gostemos do que ele nos ofereça, ainda que não tenhamos o que ele nos requeira. Muitas vezes aquilo do qual uma pessoa mais precisa não é exatamente aquilo que ela nos verbaliza, ademais,  não é por queijo, enciclopédias, planos de minutos, prata, ouro ou coisas assim… mas por uma imagem e semelhança de Deus!

Ás vezes quem nos pede um óbolo, na verdade está nos oferecendo muito mais:

“Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Mateus 25:40

Deem e receberão. Sua dádiva lhes retornará em boa medida, compactada, sacudida para caber mais, transbordante e derramada sobre vocês. O padrão de medida que adotarem será usado para medi-los". Lucas 38



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