quarta-feira, 2 de julho de 2025

Quando o Povo é o Tirano

"A variedade no vestuário havia acabado; o velho mundo estava desaparecendo; via-se gente usando o casaco uniforme do novo mundo, um casaco que naquela época nada mais era do que a última vestimenta dos condenados do futuro. As liberdades sociais que se manifestaram no rejuvenescimento da França, as liberdades de 1789, aquelas liberdades estranhas e desregradas de uma ordem de coisas que está sendo destruída e que ainda não é anarquia, estavam agora se igualando sob o cetro popular: sentia-se a proximidade de uma jovem tirania plebeia, fecunda, é verdade, e cheia de esperança, mas também muito mais terrível do que o despotismo ultrapassado da velha monarquia. Porque o povo soberano está presente em toda parte, quando se torna tirano, o tirano está em toda parte; é a presença universal de um Tibério universal." François-René, Visconde de Chateaubriand, autor de Atala, Aventuras do último Abencerragem, o Gênio do Cristianismo e outros grandes êxitos da Literatura Francesa, cristão, conservador, lutou pelo seu rei apesar de não defender uma monarquia absolutista.

Também escreveram 

"Tróia, ainda de pé sobre a base, já teria sido aniquilada e a espada do grande Heitor há muito tempo já não teria dono, não fossem os erros que vou citar. 

“Foi desprezada a essência do governo
E vede quantas tendas gregas restam
Vazias na planície, vis facções.
Se o general não é como a colmeia, 
À qual voltam, atentas, as abelhas, 
Que mel é de esperar? Sem hierarquia
O indigno iguala o digno na beleza.

O próprio céu, os astros e este mundo
Observam grau, prioridade, escala,
E curso, e proporção, forma e rodízio,
Comando e posto em toda a linha de ordem. 
E portanto, vede o glorioso planeta, o Sol, 
trona numa nobre proeminência 
no meio das outras esferas; 
seu olhar salutar corrige o sinistro aspecto
dos planetas funestos e se impõe com autoridade
soberana e absoluta, aos bons e aos maus astros.

Mas quando os astros entram em desordem,
Que pragas, que presságios, que motins,
Que revoltas no mar, tremor na terra, 
Tempestade nos ventos, medos, horrores,
Perturbam, quebram, rasgam as raízes
Da unidade e calma dos Estados.

Se acaso se destrói a hierarquia
Que é a escada de todo alto desígnio,
Toda a empresa se abala. Como podem
Classes de escolas, ou comunidades,
Pacífico comércio entre cidades,
A primogenitura, cetros e coroas, 
Senão por graus manter-se onde merecem?
Remova-se esses graus, falhe essa nota
E vejam que discórdia! As coisas entram 
Em conflito gratuito; as águas, soltas,
Erguendo-se mais alto do que as praias
Tornam-se em lama todo o globo sólido:
O mando entrega-se à imbecilidade,
E o rude filho fere e mata o pai.

Seria a força o certo: o certo e o errado, 
De cujas lutas a justiça nasce, 
Perderia o nome, coa justiça.
Então tudo se enquadra no poder,
O poder na vontade e no apetite,
E o apetite – lobo universal –
Baseado no poder e na vontade, 
Terá co’a força o mundo como presa,
E acabará comendo-se a si mesmo."

(Shakespeare, Troilus e Créssida, I.iii. 78-124 - fala de Ulisses).

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